Do caso Saffioti vs. Harada: uma anotação para meditar sobre a crise da PUC-SP
Pequito Rebelo (http://tactual.zip.net)
Antigo acadêmico que fui daquela que outrora foi a Pontifícia Universidade que já foi a Católica de São Paulo, leio, com muito incômodo pessoal, a notícia da crise financeira que sacode a Instituição da Rua Monte Alegre.
Essa crise financeira não é a única das crises (ou seria melhor falar em estado crítico — impropriedade terminológica à parte) por que passou a PUC-SP, especialmente desde a década de 60 do século passado.
As maiores de suas crises nesse tempo foram as da perda da autoridade e da identidade doutrinária.
A esse propósito, a recente e amplamente comentada investida da Socióloga HELEIETH SAFFIOTI, em favor do aborto, dirigindo e divulgando carta oposta ao Procurador do Estado CICERO HARADA, oferece ocasião para o descortino do perdimento da autoridade e da identidade doutrinal da PUC de São Paulo.
Com efeito, essa digna Socióloga é Professora da PUC paulista: Professora de uma PONTIFÍCIA Universidade CATÓLICA.
Essa condição pessoal — que se poderia mesmo pensar indicativa de um dever de estado doutrinário — não impediu, entretanto, que a Professora SAFFIOTI, na mencionada carta anti-HARADA, desfiasse, entre outras referências (incluso a favorável ao abortamento de pessoas), expressões como as que seguem:
• “Papa João Paulo II, o Papa da morte”
• “a religião é uma questão de foro íntimo”
• “não preciso desta Igreja”.
Não se compagina com a idéia de uma Pontifícia Universidade Católica uma docência explicitamente contrapapal, anti-eclesial e, ao fundo, no plano religioso, contra-institucional. Não é o caso de aqui defender a doutrina católica. Basta-me a defesa da lógica: como esperar que uma Pontifícia Universidade Católica albergue uma docência antipontifícia e anticatólica?
Leio na edição de hoje, 18-2-2006, página A33, de “O Estado de S.Paulo”, o protesto de um eminente Professor que foi da PUC-SP: “Grupos conservadores da Igreja estão se aproveitando de uma crise financeira para interferir na parte acadêmica da instituição. Isso fere a autonomia universitária. É o fim do mundo”.
Averbo algumas nótulas acerca desse comentário:
• Não sei bem de quais “grupos conservadores” está a falar o emérito Professor, até porque já se trivializou a deformação ideológica nas assinaturas “conservador” e “progressista”. Dou-lhes uma e bastante ilustração disso: em um manifesto de apoio à Professora SAFFIOTI, ilustres juristas de São Paulo aludem ao Padre MARCELO ROSSI qual “proeminente representante do conservadorismo da Igreja Católica, no Brasil”.
Sem incursionar, sequer perifericamente, nos critérios de uma classificação doutrinal intrincada, é evidente que o Padre MARCELO ROSSI é dos mais notáveis emblemas de uma das linhas atuais da “devotio moderna”. Cabe a pergunta: que se "conserva" com a "devotio moderna"?
• O digno Professor parece considerar que a “autonomia universitária” é uma trilha aberta para excluir a identidade doutrinal de uma Universidade que se instituiu como Pontifícia e Católica. E aparenta, assim, julgar deva o Arcebispo-Cardeal de São Paulo, Dom CLÁUDIO HUMMES, manter a aportação de recursos para que a mal entendida “liberdade acadêmica” de alguns Professores da PUC-SP prossiga em sua tarefa de combater a doutrina católica.
Alguém diria, tomando de empréstimo as palavras do ínclito antigo Professor da PUC, que isto, sim, seria o “fim do mundo”, a Igreja a pagar os que a querem combater e destruir, entre eles os que dizem não precisar da Igreja. Não, não: isso não é o fim do mundo, é antes uma espécie de aparente vitória do mundo, desse mundo que odeia o CRISTO (S.João, 15-19).
18/02/2006